terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alegria meus senhores, alegria...

Carnaval - Tarsila do Amaral

De repente ela parou e repensou os últimos acontecimentos. Percebeu que tudo se assemelhara a um pesadelo que parecia não ter fim, daqueles que você não enxerga uma possibilidade de acordar, que chega até a sufocar. Notou então que era possível respirar, viver de um modo diferente, aliás, viver melhor do que antes.
Acordou mudada, sentiu a falta do que viria, sentiu a falta do novo. Disponibilizou-se a sorrir novamente (o movimento dos maxilares para tal ato ainda doía um pouco, mas assim como qualquer contusão muscular logo passaria). Não deixaria as páginas desbotadas de um vão passado mancharem os seus dias.
Cores, música, sabor, encorpavam seu livre almejo. Novas perspectivas a esperavam e a possibilidade do novo a inebriava. Inéditas palavras saltavam de sua mente, recheadas de uma poesia nunca dantes proferida, uma poesia em reconstrução, aquela que reescreveria sua vida...
Serpentinas começavam a cair, máscaras voltavam a ter como função ocultar enigmaticamente belezas desconhecidas. Cambaleante, ela se propunha a levantar. Os maus pensamentos logo ficariam a esmo. Precisava recomeçar.
Iluminada assiduamente pelo sol, a lua, aos poucos, voltava a brilhar.
O belo mais uma vez remanesceria ao grotesco.
Alegria meus senhores, alegria...
Era tudo o que esperava para si.


Por: Ilka Souza

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Chuva


Chove chuva
Vem, Oh chuva
Leva chuva
Lava chuva
O sol virá,
Sua luz prevalecerá
Limpo estará o chão que vou pisar.

Por: Ilka Souza

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Palavreando

Pode parecer simples
Aprender o que a
Língua nos diz
Aprender a
Verdade de tudo
Recriar o que achamos imundo
E amar
As mais belas coisas do mundo.
Nada será em vão, se vir
Do fundo do seu coração
O prazer de não apenas dizer “não”.

Por: Ilka Souza

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Vão


Solidão acostuma,
Não é bem-vinda,
Instala-se de uma forma a não ser percebida.

Quando a felicidade vem,
Assusta.
Mas a segurança defendida por alguém
Transfigura o medo. Dá forças.
Palavras são artifícios viscerais,
Rosas têm perfume alucinógeno, e o olhar...
tem poder paralisante.

Mas e quando o “Mundo” é citado em vão?
A tal segurança oscila...
E como a razão se sustenta?

Vêm a dúvida e a vulnerabilidade,
O medo e a saudade...
Saudade do tempo bom sem conflitos,
Saudade de uma mente livre de desafios.
Saudade...
De uma incerteza mascarada.


Por: Ilka Souza